Terça-feira, 29 de Março de 2005
'Eu queria unir as pedras desavindas
Escoras do meu mundo movediço.
Aquelas duas pedras, perfeitas e lindas
Das quais eu nasci forte e inteiriço.
Eu queria ter amarra nesse cais
Para quando o mar ameaça a minha proa
E queria vencer todos os vendavais
Que se erguem quando o diabo se assoa.
Tu querias perceber os pássaros,
Voar como o Jardel sobre os centrais.
Saber por que dão seda os casulos,
Mas isso já eram sonhos a mais...
Conta-me os teus truques e fintas,
Será que os Nike's fazem voar?
Diz-me o que sabes e não me mintas,
Ao menos em ti posso confiar!
Agora diz-me o que aprendeste,
De tanto saltar muros e fronteiras.
Olha para mim e vê como cresceste,
Com a força bruta das trepadeiras.
Põe aqui a mão, sente o deserto,
Cheio de culpas que não são minhas
E ainda que nada à volta bata certo
Juro ganhar o jogo sem espinhas.'
Carlos Tê / Rui Veloso
Segunda-feira, 28 de Março de 2005
'Onde estiveres, eu estou
Onde tu fores, eu vou
Se tu quiseres assim
Meu corpo é o teu mundo
E um beijo um segundo
És parte de mim
Para onde olhares, eu corro
Se me faltares, eu morro
Quando vieres, distante
Soltam-se amarras
E tocam guitarras
Por ti, como dantes
Agarra-me esta noite
Sente o tempo que eu perdi
Agarra-me esta noite
Que amanhã não estou aqui.'
Pedro Abrunhosa
Guardado por zephira às 23:16
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Sexta-feira, 25 de Março de 2005
'Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
Que rio e danço e invento exclamações alegres,
Porque a ausência, essa ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.'
Carlos Drummond de Andrade
Quinta-feira, 24 de Março de 2005
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
Quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio.
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
Repetindo todos os dias os mesmos trajectos.
Quem não muda de marca, não se arrisca a vestir,
Uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is",
Em detrimento de um redemoinho de emoções
Justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
Sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa
Quando está infeliz com o seu trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite pelo menos uma vez na vida
Fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias
Queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
Não pergunta sobre um assunto que desconhece,
Ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço!
Muito maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um
Estágio esplêndido de felicidade.
Pablo Neruda
Terça-feira, 22 de Março de 2005
'Intensamente vivi
O momento presente,
Desfrutei as belezas da vida,
Superei as eventuais dores,
Deixei as marcas em mil corações,
Parti para o destino de todos,
Mas...
Ninguém morre enquanto
Vive no coração de alguém.
Voei pelas constelações,
E minha estrela sempre
Brilhará
Aqui e em toda parte do mundo.'
Mariano Vicente Filho
Sábado, 19 de Março de 2005
'Vai caminhando desamarrado
Dos nós e laços que o mundo faz
Vai abraçando desenleado
De outros abraços que a vida dá
Vai-te encontrando na água e no lume
Na terra quente até perder
O medo, o medo levanta muros
E ergue bandeiras pra nos deter
Não percas tempo,
O tempo corre
Só quando dói é devagar
E dá-te ao vento
Como um veleiro
Solto no mais alto mar
Liberta o grito que trazes dentro
E a coragem e o amor
Mesmo que seja só um momento
Mesmo que traga alguma dor
Só isso faz brilhar o lume
Que hás-de levar até ao fim
E esse lume já ninguém pode
Nunca apagar dentro de ti.'
Mafalda Veiga
Quarta-feira, 16 de Março de 2005
'Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida não deves viver contrafeito
Muda de vida se a vida em ti é de outro jeito
Ver-te sorrir, eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens
que ser assim
Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás de viver.'
Humanos
Pode ouvir esta música
aqui.
Quinta-feira, 10 de Março de 2005
'Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.'
Alexandre O'Neill
Guardado por zephira às 23:18
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Quarta-feira, 9 de Março de 2005
'De palavra em palavra
A noite sobe
Aos ramos mais altos
E canta
O êxtase do dia.'
Eugénio de Andrade
Guardado por zephira às 20:15
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Terça-feira, 8 de Março de 2005
Neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher". De então para cá o movimento a favor da emancipação da mulher tem tomado forma, tanto em Portugal como no resto do mundo.
Pretende-se chamar a atenção para o papel e a dignidade da mulher e levar a uma tomada de consciência do valor da pessoa, perceber o seu papel na sociedade, contestar e rever preconceitos e limitações que vêm sendo impostos à mulher.
Guardado por zephira às 22:57
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Segunda-feira, 7 de Março de 2005
'As palavras não devem ser senão a roupa, rigorosamente sob medida, do pensamento' Jules Renard
Guardado por zephira às 18:09
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Domingo, 6 de Março de 2005
'Se é sem dúvida Amor esta explosão
De tantas sensações contraditórias;
A sórdida mistura das memórias
Tão longe da verdade e da invenção;
O espelho deformante; a profusão
De frases insensatas, incensórias;
A cúmplice partilha nas histórias
Do que outros dirão ou não dirão;
Se é sem dúvida Amor a cobardia
De buscar nos lençóis a mais sombria
Razão de encantamento e de desprezo;
Não há dúvida, Amor, que te não fujo
E que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
Tenho vivido eternamente preso!'
David Mourão Ferreira,
Os Quatro Cantos do Tempo
Guardado por zephira às 23:07
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Quinta-feira, 3 de Março de 2005
'Ninguém educa ninguém.
Ninguém se educa sozinho.
Os homens se educam juntos, na transformação do mundo.
Não é no silêncio que os homens se fazem,
Mas na palavra, no trabalho, na ação/reflexão.'
Paulo Freire
Guardado por zephira às 19:05
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